domingo, 23 de maio de 2010

Entrevista com Reaching Hand


Continuando com as entrevistas, temos desta vez uma do Reaching Hand diretamente de Portugal com um vocal feminino simplesmente incrivel.

O Reaching Hand é uma banda portuguesa com vocal feminino formada em 2007, muita enérgica e positiva. A entrevista foi concedida gentilmente pelo guitarrista Ben por e-mail. As respostas não foram editadas, está da mesma forma que ele mandou então o português de Portugal está mantido, bem interessante. Para fãs de Champion e The First Step.

1 – Diga-nos o que significa Reaching Hand e por que esse nome foi escolhido para a banda. Fale também sobre quem faz parte da banda, como se formou e como é a vida de vocês ai em Portugal.
Olá Fábio
tudo bem? Em primeiro lugar obrigado pelo interesse em nos fazeres a entrevista. A ideia para o nome Reaching Hand foi tirada da música Arms of the Few, de Strife. Na altura, estavamos à procura de um nome para a banda mas nenhum nos soava bom o suficiente. Um dia enquanto estava a ouvir essa música lembrei-me do nome, perguntei à Sofia e ao Ben se gostavam e o nome acabou por ficar. O nome tem principalmente um sentido de ajuda e de força.
Na altura em que escolhemos o nome para a banda encontravamo-nos sem baixista, pois o originial (Bráulio, vocalista de Adorno, No Good Reason) que ensaiou conosco nos 2 ou 3 primeiros ensaios da banda, deixou de ter tempo para poder continuar a tocar
em RH. Foi por essa mesma razão que a nossa demo foi gravada apenas por mim, a Sofia e o Ben. Mais tarde, depois de alguns concertos em que alguns amigos nossos tocaram baixo, acabámos por encontrar um baixista definitivo para a banda, o Nuno. Esta é a formação actual e com a qual gravámos o nosso EP de estreia de deverá sair para o proximo mês.
Para além da banda, a Sofia estuda Design, o Ben Arte e Multimédia, eu estou a tirar um mestrado em Psicologia e o Nuno trabalha como Jornalista. Por vezes isso deixa-nos sem tempo para podermos fazer tudo o que queremos com a banda, mas talvez no futuro as coisas se tornem mais fáceis.

2 – Como e quando você se envolveu com o hardcore?
Desde muito novo que ouço bandas de heavy metal antigas como Iron Maiden, Judas Priest, Manowar ou Motorhead. A tendência foi a de ouvir música cada vez mais pesada e um dia um vizinho meu emprestou-me umas cassetes e CDs de Agnostic Front, Biohazard, Madball, Downset e Skarhead. Além de ter adorado comecei a procurar cada vez mais música desse género e acabei por descobrir que tinha um amigo meu que era straight edge. Isso levou-me a ouvir bandas como Strife, Trial, Floorpunch, Minor Threat e a começar a ir a concertos de hardcore cá em Portugal.

3 – Gostaria de parabenizar a Sofia pelo vocal. É realmente muito bom, sem dúvidas, o melhor vocal feminino que já ouvi. Queria saber se já aconteceu da banda ou ela sofrer algum tipo de preconceito dentro do hardcore. Se sim, conte-nos a história.
Obrigado pelo elogio, tenho a certeza de que ela agradece. Bem dentro da banda acho que essa questão nunca se pôs. Como já temos explicado, o facto da Sofia ser mulher e estar na banda não muda em nada aquilo que queriamos fazer inicialmente, e a ideia sempre foi ter uma banda de hardcore old school como qualquer outra, com a excepção de que a Sofia seria vocalista. Tudo o que faziamos ou fazemos como amigos fazemos da mesma forma na banda. No entanto, é claro que tentamos ter sempre mais cuidado com algumas situações que a nós rapazes não nos incomodam mas poderão incomodar a sofia por ser rapariga.
Dentro do hardcore, a mim não me parece que alguma vez tenhamos sofrido qualquer tipo de preconceito por ter a sofia na banda, pelo menos de que me tenha apercebido. Há sempre pessoas que não gostam de ouvir hardcore com uma rapariga a cantar porque não estão habituados ou simplesmente porque é algo que não os move. Eu pessoalmente, também não estava habituado a isso antes de ter a banda com a Sofia. Acho que é uma questão de gostos principalmente, não digo que não haja preconceito, também há de haver, mas até agora acho que ainda não nos tocou directamente.

4 – Do que vocês tratam em suas letras? Quem as escreve? Vocês passam alguma mensagem política com elas ou nos shows?
Normalmente sou eu ou a Sofia quem escreve as letras, não por alguma razão especial mas apenas porque é assim que tem vindo a ser. As nossas letras falam sobre tudo o que nos apetece, principalmente temas da realidade do dia-a-dia. Tentamos não nos singir a um determinado número de temas ou em reiterar as mesmas ideias que já centenas de bandas transmitiram, não porque na maioria dos casos não nos identificamos com eles, mas pelo simples facto de que achamos já um pouco redundante que esses temas sejam mencionados de forma sistemática, tirando o interesse não só à banda, como ao próprio tema. Achamos que o hardcore deve ser genuíno e nesse sentido tentamos ser o mais sinceros possível, falando da realidade que nos é mais próxima e evitando tocar assuntos mais cliché apenas porque "fica bem".

5 – Como é o hardcore em Portugal? Existe de fato, um grupo de pessoas que cooperam entre si? E quanto aos zines, há muitos? Fale um pouco sobre as novas e antigas bandas.
O hardcore em Portugal tem actualmente bandas bastante boas, e pelo menos nesse aspecto está na minha opinião melhor que nunca. Vejam bandas como For the Glory, Devil in Me, Day of the Dead ou Broken Distance que estão cada vez melhores. Acho no entanto, que a cultura das zines se perdeu um pouco. Antigamente viam-se muito mais zines à venda nos concertos do que hoje em dia e pessoas a compra-las, dando tanta importâncas às zines como aos vinis e às t-shirts. Ainda assim, acho que de há uns tempos para cá tenho visto cada vez mais distribuidoras em alguns concertos de hardcore que têm posto bastantes zines á venda, agora se existe interesse por parte das pessoas em comprá-las, isso já não sei...

6 – Como vocês vêem o hardcore e política? Algum de vocês tem posição política definida?
Acho que na vida tudo o que fazemos é política e como tal, que o hardcore pode ser um bom veículo para transmitir esse tipo de ideias. No caso específico de RH, não temos por hábito ser tão políticos nas nossas letras como outras bandas de hardcore, mas isso não implica que não tenhamos uma opinião politica definida. Não vou falar em concreto da posição política de cada membro da banda, mas pelo menos a título pessoal tenho convições políticas de esquerda.

7 – O que vocês sabem sobre o hardcore brasileiro? Gostam de alguma banda daqui ou elas exercem/exerceram alguma influência no som de vocês?
Não sei se posso dizer que alguma banda em concreto tenha influênciado directamente o nosso som, na medida em que aquilo que criamos não é muitas vezes reflectido a esse ponto. No entanto, é obvio que conhecemos algumas bandas brasileiras mais antigas de hardcore de que gostamos ou já ouvimos há algum tempo, como é o caso de Ratos de Porão, Infect, Discarga, Questions ou I Shot Cyrus, por exemplo.

8 – Faça uma pergunta sobre o que você gostaria de saber ou tem curiosidade, sobre o hardcore no Brasil ou nossa opinião sobre algum tema polêmico vigente no mundo atual. (entrevista interativa)
Qual é a tua opinião sobre a situação política do Brasil desde que o Lula e o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder?
O Lula não pode salvar a vida de milhões de brasileiros nem realizar mudanças profundas, apenas superficiais. Nem ele nem nenhum presidente pode fazer isso. Certo que era de se esperar mais do Lula, sabendo que anos atrás ele era um líder sindical extremamente ativo e envolvido com as causas sociais, mas vai saber... Eu prefiro o Lula a um empresário ou latifundiário do PSDB na presidência.

Porquê que o Fittipaldi usa o mesmo penteado desde os anos 70?
Tive que me esforçar pra lembrar quem é esse cara, mas deixo a resposta para você responder, caro leitor. HAHAH

9 – Li no myspace de vocês sobre a tour de verão que o Reaching Hand fez. Como foi, por que países passaram e como vocês avaliam essa experiência tanto para banda quanto para vocês que tocam nela?
A tour que fizemos o ano passado foi extremamente gratificante. Tocámos em mais de 10 países e apesar de ter levado um mês inteiro e ter ser sido muito cansativo, voltava a faze-la de novo este verão se fosse possível. No entanto este ano estamos mais limitados em termos de tempo, por isso embora esteja já marcada uma nova tour europeia para este ano, vai ter de ser mais pequena.
A tour em si correu bastante melhor do que poderiamos imaginar. Conhecemos uma data de pessoas simpaticas e dedicadas que se esforçaram bastante para nos poderem marcar um concerto e por isso estamos-lhes eternamente gratos.Tocámos concertos muito bons e promovemos bastante a nossa demo. Espero que este ano seja tão bom como foi o ano passado, porque estamos bastante ansiosos por poder promover ao máximo o novo EP e por tocar as músicas novas.

10 – O Ep “Threshold” já saiu? O que as pessoas podem esperar dele? Previsão pra distribuição no Brasil ou América do Sul?
Assinámos recentemente contrato com a editora Thorp Recs dos EUA, que neste momento se encontra a preparar a promoção do EP de estreia - Threshold - por todo o mundo à excepção da Europa, onde o EP se encontra já a ser lançado em formato CD pela editora Chorus of One Recs, e onde será igualmente lançado em vinil novamente pela Substance Recs e pela Uri Geller Recs. O concerto oficial de estreia em Portugal vai ser no próximo dia 10 de Junho em Lisboa, o dia em que irá sair a versão em vinil.
Até
agora estamos bastante contentes com a promoção que a Chorus of One tem feito do EP e ainda mais entusiasmados com a ideia de o podermos promover este verão pela Europa.
Em relação ao EP em si, penso que as músicas são bastante mais maduras do que as que compõem a demo, e que as pessoas que já gostaram da demo vão gostar ainda mais deste novo lançamento. Seria optimo ter uma edição no Brasil, mas por enquanto ainda não temos nada
em vista. De qualquer das maneiras quem viver no Brasil e quiser comprar o EP basta entrar em contacto com qualquer das editoras que participaram no lançamento e encomenda-lo pela internet.

11 – Quais são os planos futuros da banda? Gostariam de tocar na América do Sul?
O nosso objectivo é sempre tocar o mais possível em todo o lado! Tocar em todos os continentes seria óptimo e é um dos nossos objectivos! Infelizmente a nossa vida pessoal não nos permite ter o tempo que desejamos para fazer aquilo de que mais gostamos. Os planos para um futuro mais próximo passam sobretudo por promover ao máximo o novo EP, seja fazendo tours, tocando em concertos ou respondendo a entrevistas :)

12 – Resumidamente, fale sobre:
Straight edge: forma de estar na vida e de encarar o hardcore
Vegetarianismo: demonstração de consciência ética
Desigualdades sociais: consequência do paradigma económico em que nos inserimos (capitalismo)
Um grande sonho da banda: podermos dedicar-nos inteiramente a ela

13 – Muito obrigado pela entrevista! O Reaching Hand foi a primeira banda estrangeira que eu entrevistei! Desculpe pelas extensas perguntas e espero poder vê-los um dia! Espaço livre pra suas considerações finais, obrigado!
Obrigado Fábio! É sempre bom saber que existem pessoas como tu que ainda se dedicam à criação de zines e que investem em promover bandas do outro lado do mundo. Continua com o bom trabalho e mantém-te em contacto! Um abraço!

Myspace: http://www.myspace.com/reachinghand

E-mail: reachinghandhc@gmail.com

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